Por Cleuber Carlos – Redação MaisBR News | Brasília, 9 de julho de 2025
Mais do que números, o Censo Demográfico 2022, divulgado pelo IBGE, trouxe um alerta preocupante: as pessoas com deficiência continuam invisíveis nas estatísticas oficiais brasileiras.
De acordo com o levantamento, apenas 7,3% da população brasileira declarou ter algum tipo de deficiência, o que representa cerca de 16,9 milhões de pessoas em um país com mais de 203 milhões de habitantes.
A porcentagem é quase metade da média mundial, estimada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 15% — o que acende um sinal vermelho sobre subnotificação, subdiagnóstico e negligência estrutural.
📊 Por que o número é tão baixo?
Especialistas apontam que o número oficial ficou aquém da realidade por três motivos principais:
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Mudança na metodologia do IBGE, que passou a utilizar um novo padrão de perguntas, mais restritivo e técnico, baseado no modelo de funcionalidade da ONU.
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Falta de preparo dos recenseadores para abordar temas sensíveis como deficiência auditiva, intelectual ou psicossocial.
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Resistência ou desinformação das próprias famílias, que muitas vezes não reconhecem ou preferem não declarar a deficiência.
“Se o Censo não vê essas pessoas, o Estado também não as vê. Isso afeta diretamente políticas de saúde, acessibilidade, educação e trabalho”, alerta Cláudia Werneck, especialista em inclusão e fundadora da ONG Escola de Gente.
🏥 Impactos concretos da invisibilidade
A subnotificação no Censo se reflete em:
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Ausência de cotas efetivas no serviço público e mercado de trabalho
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Falta de adaptação em escolas regulares e concursos
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Infraestrutura urbana despreparada para mobilidade
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Atraso na formulação de políticas intersetoriais (saúde, transporte, moradia)
“É como se a deficiência só existisse no discurso, mas não na base de dados que orienta a política pública”, afirma Raquel Figueiredo, promotora do MPF em Goiás.
🗳️ O Estado sabe, mas não age
A invisibilidade estatística não é novidade. No Censo de 2010, mais de 45 milhões de pessoas se declararam com algum tipo de deficiência. A queda brusca nos números atuais levanta suspeitas sobre intencionalidade política ou falha metodológica grave.
A Federação Nacional das Apaes e outras entidades já anunciaram que pretendem acionar o IBGE e o Ministério dos Direitos Humanos para rever os critérios do levantamento.
“Não se trata apenas de estatística. Trata-se de garantir recursos, orçamento e respeito”, declarou a deputada federal Marina Martins (PSB-RJ), que cobra revisão imediata dos dados.
📌 Conclusão
Sem dados, não há direito. Sem visibilidade, não há prioridade.
O Brasil precisa enxergar, contar e respeitar suas pessoas com deficiência — não apenas nas campanhas de inclusão ou em datas simbólicas, mas nas decisões que afetam suas vidas todos os dias.
A lacuna deixada pelo Censo 2022 é mais que um erro técnico: é um reflexo da exclusão histórica que persiste em pleno 2025.
Você tem deficiência ou conhece alguém que enfrenta dificuldades com acessibilidade e serviços públicos?
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