A instalação da Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar o Consórcio Limpa Gyn continua sendo pauta dominante na Câmara Municipal de Goiânia, mas o processo avança em meio a contradições, desconfianças e possíveis manobras de bastidores que colocam em xeque a independência do Legislativo.
O eixo político
A CPI não nasce apenas de um problema de coleta de lixo, mas de uma disputa de poder na Câmara.
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O prefeito Sandro Mabel tenta manter sua base de apoio, mas a adesão de 16 vereadores ao pedido de investigação revela insatisfação crescente.
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Nos bastidores, surgem acusações de que o Executivo estaria oferecendo cargos comissionados e liberação de emendas em troca de enfraquecer a CEI.
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A instalação da CPI expõe a tensão entre fiscalizar e manter alianças, o que coloca a Câmara em evidência: será que os vereadores vão priorizar a população ou ceder à pressão política?
👉 Impacto esperado: a depender do andamento, a CPI pode rachar de vez a base do prefeito e abrir espaço para novas lideranças dentro do Legislativo.
2. O eixo técnico-operacional
A má qualidade da coleta é o estopim.
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Atrasos recorrentes de até 15 dias em bairros como Madre Germana, Real Conquista e Santa Fé geraram revolta popular.
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Denúncias apontam que máquinas do consórcio estariam sendo usadas para serviços privados, em desvio da função pública.
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O contrato inicial de R$ 500 milhões recebeu aditivos milionários, com pouca transparência sobre custos extras.
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Vereadores acusam o consórcio de se recusar a detalhar rotas e métricas de desempenho.
👉 Impacto esperado: a CPI pode expor falhas contratuais graves, abrir brecha para rescisão e forçar licitação de novos prestadores.
1. Reclamações persistentes da população
Moradores de vários bairros têm relatado atrasos de até 15 dias na coleta de lixo domiciliar, especialmente em zonas como Real Conquista, Madre Germana 2, Santa Fé, Grajaú, Jardim das Esmeraldas e Orienteville, conforme relatos de imprensa local
2. Irregularidades operacionais e denúncias de uso indevido de recursos
Parlamentares têm criticado a qualidade do serviço prestado pelo Consórcio Limpa Gyn, apontando problemas como uso de maquinário para limpeza em propriedades privadas, falta de transparência em rotas de caminhões e respostas insatisfatórias da empresa ao ser questionada
3. Contrato milionário e aditivos elevados
O consórcio assinou um contrato estimado em mais de R$ 500 milhões por 24 meses. Em 2025, houve aditivo de quase R$ 9 milhões para ampliar o valor do contrato, o que gerou preocupação entre os vereadores sobre a gestão dos recursos públicos
4. Conflito entre base aliada e Executivo municipal
A CEI foi requerida com apoio de 16 ou 17 vereadores (acima do mínimo necessário de 13), sinalizando insatisfação dentro da Câmara e um possível rompimento com a base aliada do prefeito Sandro Mabel
5. Histórico de crises e falhas na coleta urbana
Crises na coleta de lixo em Goiânia não são novidade — há histórico de acúmulo de resíduos, falhas no serviço público e dificuldade operacional em gestões passadas. Essas experiências reforçam a urgência de uma apuração rigorosa
Indefinição e pressões
Na sessão desta terça-feira, parlamentares subiram à tribuna para discutir o andamento da CEI. Embora exista pressão popular por uma apuração transparente sobre os contratos e a execução dos serviços do consórcio, parte da Câmara segue sem consenso sobre a formalização da comissão.
Informações de bastidores dão conta de encontros entre vereadores e o prefeito Sandro Mabel, nos quais teria havido pressão para que emendas impositivas fossem pagas e cargos comissionados distribuídos em troca de apoio político. A denúncia sugere que a CEI pode estar sendo usada como moeda de troca entre Executivo e Legislativo.
Negativas e contraofensiva
Durante a sessão, alguns vereadores se apressaram em negar que estejam negociando com o Paço Municipal, classificando as notícias como uma tentativa de enfraquecer a CEI. O esforço em desmentir dá indícios de que o assunto incomodou, principalmente pela repercussão negativa junto à opinião pública.
A estratégia parece clara: esvaziar a narrativa de que o Legislativo teria sido cooptado pelo Executivo para desmobilizar a investigação.
A crítica de Aava Santiago
A vereadora Aava Santiago (PSDB) foi uma das vozes mais contundentes. Em entrevista ao G24h, afirmou que há uma movimentação explícita para desarticular a investigação.
“A impressão que eu tenho é que o prefeito quer colocar a opinião pública contra um processo de investigação que é legítimo… Porque o prefeito está tão empenhado em desarticular uma CEI?”, questionou.
A fala da parlamentar ecoa um ponto crucial: se não há nada a esconder, por que tamanho esforço do Executivo para barrar uma apuração que, em tese, traria mais transparência e segurança jurídica?
Análise crítica
O cenário atual revela um dilema clássico da política municipal: a tensão entre os interesses do Executivo em manter estabilidade e os deveres constitucionais do Legislativo em fiscalizar. O risco é que a CEI se transforme em um jogo de cena, onde a pressão dos gabinetes suplante a demanda legítima da população por respostas sobre os contratos milionários da limpeza urbana.
A instalação da CEI da Limpa Gyn será, portanto, um termômetro não apenas da relação entre a Câmara e o Paço, mas também da disposição dos vereadores em enfrentar a pressão política e priorizar a transparência.
A CPI da Limpa Gyn é mais do que uma investigação sobre contratos de lixo: ela simboliza um teste de independência da Câmara Municipal. Se os vereadores cederem ao Executivo, a CEI pode virar apenas encenação política. Mas se avançar de forma séria, pode revelar um esquema de desperdício de recursos públicos e abrir espaço para novas formas de gestão do lixo em Goiânia.
No fundo, a questão central é: quem a Câmara de Goiânia vai proteger — a população ou os acordos de bastidores?