O Passado que Não Passa
O cooperativismo de crédito sempre foi vendido como uma alternativa mais justa e próxima do associado. No entanto, o episódio envolvendo a Sicoob Unimais Bandeirante, de Americana-SP, mostrou o lado sombrio do sistema. Auditorias do Banco Central revelaram um conjunto de operações fraudulentas e temerárias: empréstimos sem lastro, compras de imóveis disfarçadas, simulações contábeis e saída de caixa de R$ 48 milhões em ativos praticamente sem liquidez.
Resultado? Um rombo de R$ 114 milhões que, em 2019, foi carregado pela Sicoob UniCentro BR, após incorporar a cooperativa falida. E o detalhe: esse passivo não sumiu, apenas mudou de endereço — para o bolso dos cooperados.
A Engenharia do Prejuízo
O Banco Central descreveu um roteiro típico de colapso:
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Créditos concedidos sem garantias reais e sem análise da capacidade de pagamento;
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Operações estruturadas para burlar limites legais, dividindo empréstimos em nomes diferentes, mas todos ligados ao mesmo grupo;
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Aquisição onerosa de terrenos e imóveis via “permuta”, mascarada como liquidação de operações, quando na verdade significava imobilizar recursos em ativos superfaturados;
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Contabilidade criativa para adiar provisões e esconder inadimplência.
Tudo isso sob a conivência de dirigentes que, anos depois, seriam multados e inabilitados pelo BC. Mas as multas não cobrem o rombo — quem cobre são os cooperados.
O Peso no Ombro dos Associados
Com a incorporação, a UniCentro BR assumiu não só os ativos podres, mas também a obrigação de resolver a equação. E a solução encontrada foi simples:
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Parte do prejuízo (R$ 80 mi) foi transferida ao Fundo de Estabilidade do Sicoob (FEL);
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Outra parte (R$ 33,8 mi) ao FGCoop;
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O restante será abatido das sobras anuais dos ex-cooperados da Unimais, num prazo de até 15 anos.
Em outras palavras: os lucros que poderiam ser devolvidos aos cooperados são retidos para pagar a conta de uma gestão desastrosa.
Enquanto a UniCentro BR anuncia resultados recordes — R$ 115 milhões no 1º semestre de 2025 — parte desse valor não se traduz em benefício para quem confiou seu dinheiro à instituição. É o cooperativismo às avessas: socializar prejuízos, privatizar irresponsabilidades.
A Pergunta que Fica
O caso da Unimais/UniCentro BR não é isolado. Casos semelhantes já explodiram em outras praças do Sicoob, e sempre com o mesmo padrão: dirigentes apostam em operações arriscadas ou fraudulentas, o Banco Central entra tardiamente, aplica multas simbólicas, e no fim a fatura recai sobre quem menos deveria pagar — o cooperado comum.
É justo que milhares de pequenos associados arquem com erros de gestão milionários? Onde está a responsabilidade civil e criminal de quem conduziu esse desastre? Por que as ações de ressarcimento ainda caminham a passos lentos?
Enquanto essas perguntas não forem respondidas, o cooperativismo de crédito — que deveria ser um modelo de confiança mútua e solidariedade financeira — continuará sendo manchado por escândalos que revelam sua face mais cruel: a conta sempre sobra para o associado.
📌 Opinião do Mais Brazil News:
O caso da UniCentro BR é mais que um problema contábil. É um sintoma de um sistema que ainda falha em garantir transparência, fiscalização e responsabilização. Se o Sicoob quer preservar sua credibilidade, precisa mostrar que não basta punir no papel: é preciso reparar os prejuízos, recuperar os recursos desviados e devolver a confiança ao cooperado.