Bancos digitais e tradicionais viram a procura por contas bancárias para crianças e adolescentes mais que dobrarem recentemente. Um ano após o lançamento da modalidade, o Nubank, por exemplo, já acumula mais de 1,2 milhão de clientes na categoria. Caixa Econômica Federal, Picpay, Itaú, Inter, Mercado Pago, Bradesco e Banco do Brasil também oferecem contas para menores, de diferentes faixas etárias. Os aplicativos ganharam versões lúdicas e crianças e adolescente já tem acesso ao pix, cartão de crédito, débito e até opções para investir, tudo vinculado à conta dos responsáveis, que podem acompanhar a movimentação. Para a especialista Aline Soaper, idealizadora da EfincKids, metodologia que já está sendo ministrada para crianças dentro do ambiente escolar para ensinar educação financeira, os responsáveis devem utilizar as contas bancárias como ferramenta de implementação do ensino de finanças pessoais para menores de idade.
“A conta corrente para menores facilita o uso do dinheiro. É mais seguro para a criança usar o cartão para pagar o lanche na escola ou o cinema do que levar dinheiro em espécie e correr o risco de perder ou ser furtado. Mas os pais precisam ensinar sobre os limites, explicar que existe um valor determinado que pode ser utilizado, isso vai ajudar na conscientização sobre o uso do dinheiro”, ressalta a educadora à frente da EfincKids.
Para os bancos, claro, é um excelente negócio. Além de conquistar correntistas cada vez mais cedo, auxilia na fidelização. “Meu pai abriu uma conta corrente para mim quando eu tinha 16 anos há quase 30 anos atrás e eu utilizo esse mesmo banco até hoje.” Ressalta Aline Soaper que começou a empreender ainda adolescente e precisou aprender a gerenciar o próprio dinheiro.
Mas aprender a lidar com dinheiro em um mundo cada vez mais digitalizado, onde tudo acontece na palma da mão, exige das famílias orientações sobre educação financeira. Segundo dados do SPC Brasil, 46% dos brasileiros, com idade entre 25 e 29 anos, estão endividados e inadimplentes. Além disso, 75% dos jovens, com idade entre 18 e 30 anos, não fazem controle de gastos. Aline Soaper defende que o aprendizado financeiro ainda na infância é uma chave de transformação para minimizar o problema crônico de endividamento dos brasileiros.
“A educação escolar não pode ser focada apenas em conceitos técnicos para as provas, as crianças e adolescentes precisam ser preparados para lidar com os desafios da vida e o dinheiro é o primeiro desafio que eles irão enfrentar e terão que lidar com ele durante toda a vida. Um adulto despreparado para lidar com dinheiro sofre por anos com escolhas erradas, endividamento, ansiedade e até problemas relacionados à vida profissional e relacionamentos. As escolas precisam incluir uma educação financeira contextualizada e que prepare as crianças não apenas tecnicamente, mas principalmente ofereça recursos para que essas crianças cresçam preparadas para enfrentar o desafio de gerar e gerir o próprio dinheiro”, conta Soaper.
Para evitar futuros transtornos com as contas bancárias dos menores, a educadora financeira lista algumas dicas que podem ajudar na hora dos responsáveis monitorarem e ensinarem aos filhos a usar o dinheiro de forma consciente. Confira:
1) Defina um valor que pode ser utilizado por semana.
A semanada é mais eficiente do que a mesada. Porque a criança não consegue ter a mesma percepção de tempo do que os adultos. Eles precisam aprender a gerenciar o dinheiro para usar durante os dias da semana.
2) Estabeleça metas e recompensas
Se a criança conseguir economizar uma parte da semana até o final da semana, ela pode receber um valor a mais para a próxima semana. Isso vai ensinar a importância de poupar e o conceito de investimentos.
3) Ensine sobre escolhas
Dar tudo o que o filho pede pode parecer muito bom, mas a longo prazo ele não terá aprendido a lidar com a necessidade de fazer escolhas e durante toda a vida ele precisará fazer escolhas sobre como usar o dinheiro. Quando a família ensina desde cedo, ele cresce com mais habilidade para gerenciar o dinheiro.
4) Fale com a direção da escola sobre ter a disciplina de educação financeira contextualizada para a vida
Muitas escolas estão inserindo a educação financeira no currículo escolar apenas com conteúdo técnico sobre finanças, mas a realidade que vivemos hoje exige mais do que isso, é preciso ensinar sobre o comportamento financeiro. Não é apenas sobre o dinheiro, mas sobre a vida.