Altas temperaturas podem colocar em risco a qualidade de sono, alerta a médica Sandra Doria.
As temperaturas elevadas e o tempo seco têm surpreendido os brasileiros nos últimos meses. A previsão1 é que as ondas de calor ocorram na primavera, com sérias consequências para o organismo como desidratação, insolação e problemas no aparelho respiratório. Outra queixa comum nas noites muito quentes é a dificuldade para dormir. E a ciência vem mostrando cada vez mais a relação entre o calor e a piora do padrão de sono. Um estudo sueco2 com 19.254 pessoas revelou que, nas noites quentes, 34,5% dormiram menos de 6 horas, 12,1% tiveram despertares matinais precoces e 15,5% sentiram-se cansados ao acordar. Pesquisadores dinamarqueses3 analisaram 47.628 pessoas de 68 países, constatando que o efeito das altas temperaturas na perda de sono é maior em idosos e nas mulheres.
O ciclo vigília-sono está vinculado ao sistema de regulação de temperatura corporal, que é influenciado pela temperatura externa. Para o sono começar, o organismo precisa dissipar o calor. “No calor, o corpo tem de fazer um esforço redobrado para realizar esta tarefa”, explica a médica Sandra Doria, pesquisadora do Instituto do Sono. Assim é mais difícil adormecer. Além disso, o tempo de sono profundo e o tempo total de sono podem ficar mais reduzidos.
O clima quente é também um convite para as pessoas saírem de casa à noite para irem a bares e restaurantes, reuniões com amigos e passeios ao ar livre. Como o sono requer regularidade, se há uma mudança de rotina, é preciso se adaptar aos novos horários para não haver dificuldade de conciliar o sono. “Pior que a alteração de rotina, é dormir e acordar cada dia em um horário diferente, o que prejudica a qualidade de sono”, diz Sandra Doria.
Por causa da falta de horários regulares para o descanso, muitas pessoas lançam mão de bebidas estimulantes para ficarem despertas durante o dia como café, chás e enérgicos. À noite, o excesso de consumo pode levar à insônia. Para resolver o problema, muitos tomam bebidas alcoólicas. “Embora facilite o ato de adormecer, o álcool proporciona uma qualidade de sono ruim. A pessoa acorda cansada e, para melhorar o rendimento, toma uma bebida estimulante, entrando assim num círculo vicioso perigoso”, pondera a especialista do Instituto do Sono.
A seguir a médica Sandra Doria dá 5 dicas para melhorar o sono nas noites quentes:
– Banho antes de dormir – uma boa ducha pode ajudar a reduzir a temperatura do corpo e ajudar a sentir menos calor antes de pegar no sono.
– Temperatura elevada – mantenha as janelas abertas para facilitar a ventilação. Use ar- condicionado ou ventilador para diminuir o calor no ambiente.
– Pernilongos – por causa do barulho e das picadas esses insetos podem se transformar em elementos que fragmentam o sono. Coloque telas nas janelas ou use mosqueteiros para evitar a entrada de insetos no quarto.
– Exercícios físicos – resista à tentação de aproveitar as noites quentes para a prática de esportes, corrida e atividades físicas poucas horas antes de ir para cama. Prefira fazer algo relaxante como meditar, ler ou ouvir música.
– Hidratação – manter-se hidratado no calor é muito importante. Beba água fria antes de se deitar para aumentar a sensação de frescor.
Sobre o Instituto do Sono
O Instituto do Sono é um centro de referência mundial em pesquisa, diagnóstico e tratamento em distúrbios de sono. Fundado em 1992 pelo Professor Sergio Tufik, é formado atualmente por mais de 100 colaboradores, entre eles médicos de diversas especialidades, técnicos, psicólogos, biólogos, biomédicos, dentistas, assistentes sociais, enfermeiras, fisioterapeutas, educadores físicos e pesquisadores. Além do atendimento à população, conta com uma área de educação continuada que já capacitou mais de 4.000 profissionais de saúde.
O Instituto do Sono faz parte da AFIP (Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa), uma instituição privada, sem fins lucrativos e filantrópica, fundada por profissionais da área da saúde, professores universitários e pesquisadores há mais de 40 anos. Seu objetivo é fornecer suporte financeiro para atividades de docência, pesquisa científica e atendimento médico à população.