“Mamãe! Eu sonhei com vovó essa noite. No sonho, ela estava grávida de 12 semanas, mas não queria o bebê. Eu fiquei extremamente triste, pois se tratava de você”
Artigo de Edemundo Dias de Oliveira Filho
Mamãe! Eu sonhei com vovó essa noite. No sonho, ela estava grávida de 12 semanas, mas não queria o bebê. Eu fiquei extremamente triste, pois se tratava de você. Eu tentei falar ao ouvido dela, porém não me ouvia. Todo meu esforço era vão. Vovó só ouvia pessoas que diziam ser direito dela escolher entre o tédio, o remorso e a morte.
Minha aflição aumentava, mas não desisti. Apelei à ciência e aos médicos, pois fizeram o Juramento de Hipócrates. Juraram lutar pela vida com a própria vida. Mas eles também jamais me ouvirão, pois a indústria da orfandade, ou dos pais vampiros, dos laboratórios que sugam o sangue e o plasma de fetos e embriões para pesquisas, garantem a longevidade de quem pode pagar caro, mas já são mortos-vivos ou um vivos-mortos.
Apelei aos juristas e advogados. Todos eles se formaram prometendo lutar pela justiça e pela vida. Todavia, eles estavam mais preocupados em garantir seus honorários. E, eu, hipossuficiente, não tenho recursos para me defender do supremo ativismo do Supremo.
Fui aos políticos, estes afirmaram defender a Carta Magna. Ela diz que o direito à vida é, acima de todos, cláusula pétrea, inviolável. Fizeram leis de proteção à infância e até um Dia da Criança. Só que a prioridade deles é a próxima eleição e não a próxima geração.
Então fui aos devotos religiosos, padres, freiras, pastores… Todos se gabam em conhecer o amor Deus e a piedade de Maria, mãe de Jesus. Talvez pudessem salvar você. No entanto, eles estavam sobremodo ocupados, tentando esconder os escândalos dos templos, sob os bebês enterrados nas paredes dos conventos e das catedrais.
Mamãe! Tenho ouvido falar que vão fazer um plebiscito para o povo decidir sobre você. Todo mundo poderá dar a sua opinião, manifestar-se, homens e mulheres, da esquerda e da direita. Mas… e eu? Quem vai me ouvir?
Então, venho até você. Talvez ainda informe no ventre de vovó, possa me escutar, e fazer tocar algo no coração dela. Porém, temo que nem mesmo você poderá ouvir a minha voz. Será, então, que o meu clamor nunca poderá ser ouvido e eu jamais poderei acordar desse terrível pesadelo?
No entanto, quem sabe Deus me ouça dos céus e, antes de você ser entretecida no útero da vovó e abortada na sarjeta do mundo, sei que o Excelso Criador de todas as coisas, que já conhece o teu nome, transforme-a em uma estrela a brilhar nos céus. E o fulgor da minha e da tua voz, finalmente, venha ecoar pela eternidade.
Edemundo Dias de Oliveira Filho é advogado e pastor evangélico.