A saúde mental dos colaboradores ainda é um desafio no cotidiano das organizações. O assunto nunca é falado abertamente, seja por vergonha, preconceito ou porque quem começa a sofrer de algum transtorno mental, em geral, acredita que deve superar o problema sozinho.
Este é um tema de extrema importância na agenda corporativa. Trabalhadores com ansiedade, depressão e estresse elevado tendem a ficar desmotivados e isso afeta tanto a qualidade de seus trabalhos, como o relacionamento com os colegas e lideranças.
Dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) dão conta de que mais de 209 mil pessoas se afastaram do emprego em 2022 no Brasil por problemas como depressão, ansiedade e Alzheimer. E segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de 15% dos trabalhadores adultos vivem com um transtorno mental. Estima-se que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido à depressão e ansiedade, custando à economia global quase US$ 1 trilhão.
Falar em saúde mental no trabalho significa levar em conta os vários impactos que o ambiente corporativo tem no psicológico de cada trabalhador. Considerando que passamos grande parte de nossas vidas em nossos empregos, fica evidente o quanto esse espaço precisa ser saudável, livre de toxicidades, para que tanto colaboradores como organizações não sofram com consequências negativas.
As empresas têm, sobretudo, a responsabilidade de criar um ambiente favorável ao bem-estar mental. Desde as atitudes das lideranças até a cultura organizacional, todos devem estar empenhados na promoção de um ambiente onde prevaleça o respeito, a empatia e o acolhimento.
Vale apostar em programas de bem-estar, treinamento voltados para gestão do estresse, flexibilidade de horários, recursos para lidar com problemas emocionais, entre outros.
Mas existe outro ponto fundamental: é preciso remover os preconceitos associados à saúde mental, e a melhor forma de fazer isso é com diálogos e debates sobre o assunto. Dessa forma, cresce a confiança entre colaboradores e empresa, o que eleva, consequentemente, a produtividade e satisfação geral.
Por tudo isso, no último 10 de outubro, Dia Mundial da Saúde Mental, decidi redigir uma carta aberta sobre saúde mental e trabalho, que compartilhei com todos os colaboradores da nossa organização e disponibilizo neste artigo, na esperança de que possa ajudar a outros leitores, e a outros líderes organizacionais na abordagem deste desafio tão difícil e ao mesmo tempo tão natural e frequente:
“Em momentos de sofrimento, na hora em que bate a frustração e a autoestima praticamente desaparece, cedendo lugar para a tristeza, é comum o indivíduo achar que todos ao redor são felizes, exceto ele próprio.
Quando surge o pensamento que todos possuem um propósito, menos aquela pessoa; quando se pensa em desistir e a esperança vai embora; a tendência é de nos isolarmos, em vez de pedir ajuda. Acredita-se que apenas os bons momentos devem ser compartilhados, mas, fique certo que buscar alguém para dividir as tristezas torna o fardo mais leve e o caminho mais fácil para se percorrer.
Se você estiver numa fase “boa”, “normal” da vida, cuide-se, enfatize o que for positivo. Faça exercício físico, procure contato com a natureza, alimente-se bem, descanse o suficiente, ria bastante e de tudo, abrace mais quem você ama (nas alegrias e nas brigas)! Exercite a gratidão todos os dias por tudo o que o universo traz para você: o bom e o ruim, o que você gosta e o que você rejeita.
Procure aprender a amar o que faz; faça com foco e carinho. Não há papel que não seja importante e protagonista nessa vida, você está sempre impactando pessoas na sua jornada, muito além do que você imagina. Nós não precisamos entender; o Universo sabe o que faz. Então, não interessa se você trabalha na limpeza, na fábrica, numa área de suporte, em vendas, se você é líder ou liderado, se você ganha mais ou ganha menos; se o seu lugar na sociedade tem mais ou menos glamour aos olhos do mundo. Faça com carinho, com foco, com empenho, com intenção de servir aos outros, não tenha dúvidas de que você pode fazer o bem por alguém e essa forma de encarar a sua jornada também irá repercutir positivamente na sua própria paz, aumentando a alegria e sendo extremamente benéfico para a sua saúde mental.
E se você está numa fase obscura, de dor, de sofrimento, de perda de sentido… num momento em que culpas, feridas, mágoas, traumas do passado ou medo do futuro estão te angustiando ou atormentando… se você não está encontrando motivação, propósito e sente que não é valioso e importante… se você se sente sozinho e não encontra energia para encarar e abraçar a vida, gostaria de lhe dizer o seguinte:
- .Você não está sozinho em sua condição humana, você não falhou, não deu errado. Não existe ser humano que passe pela vida sem crise, sem sofrimento. Alguns mais, outros menos, mas a busca de sentido, as aflições, as angústias e os medos são parte da condição humana. Todos precisamos curar coisas, encontrar respostas, desenvolver hábitos que sustentem círculos virtuosos, porém, todos nós passamos por momentos de escuridão, de desânimo e de vazio. Diria que, em particular, os mais sensíveis sofrem e, ao mesmo tempo, têm nesta vulnerabilidade um presente grandioso. Essas pessoas têm empatia, uma capacidade excepcional de se identificar com os outros e ajudar o próximo.
- A vida é feita de ciclos, fases, e essa fase também vai passar. Os momentos de dor parecem eternos, intermináveis, que nunca vão acabar. Os de felicidade levam a crer que duram um instante apenas (e a gente está muito ocupado desfrutando, então costuma perder a noção do tempo…). Mas tenha a certeza: o que é ruim sempre passa, e momentos melhores vão chegar. Vale a pena escrever isso em um papel e ler todos os dias durante os tempos de crise. A vida tem suas leis, essa é uma delas!
- Essa fase vai te fazer crescer: dizem que a lagarta, antes de virar borboleta começa a sentir dor, ficar pesada, lenta, até que entra num estado onde fica quieta, recolhida e a metamorfose, então, acontece. Ela não sabe que vai virar algo tão deslumbrante, e, se pudesse escolher o que gostaria, na fase de lagarta, onde começa a sentir muita dor, provavelmente diria: “Quero seguir sendo uma lagarta que não sofre”. Mas esse processo tem um sentido e propósito que ela mesma desconhece, e não entende, mas, que é real e a transforma em algo admirável e de uma beleza muito maior. Conosco não é diferente. Por isso, confie no seu processo, e esteja aberto a se desapegar do que é preciso. Entregue. Aceite. Libere!
- A gente nem sempre consegue sozinho, então peça ajuda! Nas fases de dor a nossa tendência é nos isolarmos. Quebrar essa inércia requer tomar uma decisão e, também, força de vontade, mas é necessário. Também é difícil se abrir, soltar, perdoar, livrar-se de paradigmas, preconceitos, auto castigo. Mas o prêmio, após essa jornada, valerá a pena. Ganhamos maior sabedoria, humildade, paz e alegria. Por isso, lembre-se: peça ajuda, permita-se a felicidade que merece. A gente veio para esta vida para ser feliz, o que é diferente de “não sofrer”, e toda jornada começa com um primeiro passo. Tenha fé e confiança! Pode ser que o êxito não aconteça em uma primeira tentativa, mas as pessoas certas, para ajudar no seu processo, vão aparecer quando for a hora certa. Já diz o ditado: “Quando o aluno está pronto, o mestre aparece”. E nunca se esqueça: você é importante! Importante para o Universo, para seus amigos, para sua família e para todos a seu redor!”.