Na manhã desta quarta-feira (21), o Ministério Público de Goiás (MP-GO), por meio do Gaeco Sul, deflagrou a Operação Regra de Três, que expõe mais um capítulo sombrio da relação entre poder, corrupção e fragilidade no controle de verbas públicas destinadas à educação. O alvo principal é um delegado da Polícia Civil de Rio Verde, suspeito de liderar uma organização criminosa em conjunto com sua esposa.
De acordo com a investigação, o grupo teria desviado ao menos R$ 2,2 milhões desde 2020, recursos que deveriam financiar reformas, obras em escolas estaduais e até a impressão de material didático. O MP-GO também aponta indícios de fraude em contratos para concursos públicos da Câmara Municipal de Rio Verde, com direcionamento ilícito para entidades ligadas ao grupo.
O Esquema Revelado
Segundo o MP, a rede de corrupção funcionava em três frentes principais:
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Obras escolares: contratos superfaturados e direcionados para empresas ligadas ao grupo.
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Material didático: impressão e fornecimento com sobrepreço e favorecimento.
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Concursos públicos: contratação ilícita de instituto ligado ao grupo para realização de certames oficiais.
A arquitetura criminosa incluía falsidade ideológica, contratação direta irregular, lavagem de capitais e uso de “laranjas” para movimentar valores. A ordem judicial determinou o bloqueio de contas e a apreensão de bens dos investigados, medida necessária para garantir o eventual ressarcimento dos cofres públicos.
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Delegado Dannilo Ribeiro Proto, da Polícia Civil de Goiás (PC-GO), foi preso nesta quinta-feira, 21 de agosto de 2025, sob suspeita de liderar o esquema (sendo o suposto líder da organização criminosa)
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Outros envolvidos identificados incluem a esposa do delegado, que também teria atuação destacada no esquema. Ela estaria, segundo as investigações, à frente da Coordenação Regional de Educação de Rio Verde e seria sócia de uma empresa do segmento educacional envolvida nas fraudes
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Atualmente, os nomes dos demais investigados não foram divulgados ao público, conforme relatado pelo Ministério Público e veículos locais
Contratos e Modo de Operação
As fraudes giravam em torno de diversos tipos de contratos públicos, com destaque para:
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Obras e reformas em escolas estaduais de Rio Verde — contratos de dispensa de licitação, com indícios de direcionamento e superfaturamento
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Impressão de material didático para as escolas estaduais — favorecimento ilícito a empresas vinculadas à organização
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Contratação de instituto para realizar concurso público da Câmara Municipal de Rio Verde — direcionada a entidade ligada ao grupo criminoso
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Ao todo, estima-se que o esquema movimentou mais de R$ 2,2 milhões entre 2020 e 2025, por meio de pelo menos 40 procedimentos de dispensa de licitação fraudados
Impacto e Indignação
Não é a primeira vez que verbas da educação, recurso sagrado para qualquer sociedade, viram alvo de predadores políticos e institucionais. A diferença, neste caso, é que o suposto chefe do esquema não é um político tradicional, mas um delegado de polícia, figura que deveria ser símbolo da lei e da moralidade.
A denúncia desmonta o discurso oficial de combate à corrupção dentro da própria máquina pública, deixando uma ferida ainda mais profunda na confiança da população. O delegado, ao invés de proteger o patrimônio público, teria usado seu cargo e influência para manipular contratos e drenar recursos que deveriam estar construindo escolas e garantindo aprendizado.
A Reação da Polícia Civil
Em nota, a Polícia Civil de Goiás afirmou que prestou apoio ao MP na operação e reforçou o compromisso institucional com a transparência. A corporação informou que o caso será remetido à Corregedoria, mas o episódio lança uma sombra sobre a credibilidade da instituição.
A questão central agora é: até onde vai a conivência ou a cegueira das corregedorias diante de agentes que se transformam em criminosos de colarinho branco?
O que Vem a Seguir
O processo deve avançar com denúncias formais por organização criminosa, fraude em licitação, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Se confirmadas as provas, abre-se a possibilidade não só de perda do cargo e prisão do delegado, mas também de desdobramentos contra gestores públicos que possam ter participado ou se beneficiado da rede de contratos fraudulentos.