Nos últimos anos, temos testemunhado um crescimento notável no número de mulheres empreendedoras em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, eram 10,3 milhões de negócios liderados por elas – o maior contingente da história, segundo um estudo do Sebrae realizado a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) do IBGE referente ao 3º semestre de 2022.
Atividades como salões de cabeleireiros e de beleza, comércio de vestuário, confecção, serviços de catering, bufê, serviços de comida preparada e comércio de produtos farmacêuticos, cosméticos e de perfumaria estão entre aquelas com predomínio feminino.
No entanto, é preciso destacar que, em um país com desigualdades tão agudas como o Brasil, muitas dessas empreendedoras criam seu próprio negócio por uma questão de sobrevivência – e não por um chamado vocacional ou para aproveitar uma boa oportunidade de mercado. Muitos desses empreendimentos, aliás, não se sustentam no longo prazo. E, além da falta de planejamento imposta pela necessidade de sobrevivência, há muitas razões para isso.
Além da desigualdade estrutural, em razão do papel histórico de cuidadora do lar imposto às mulheres, existem dificuldades financeiras, burocráticas e culturais que frequentemente impedem o crescimento de negócios com liderança feminina. Em resumo, não há um ambiente de negócios amigável e igualitário, o que torna difícil para elas se estabelecerem e prosperarem.
E é por isso que um número cada vez maior de brasileiras têm buscado os EUA, não para fazer carreira trabalhando para terceiros, mas para criar seus próprios negócios. De cabeleireiras, manicures, advogadas, recrutadoras, consultoras financeiras e corretoras, testemunhei a jornada de dezenas de compatriotas que viajaram até a América para aproveitar as facilidades oferecidas por ela.
Dados do Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS, na sigla em inglês) revelam que, em 2021, 57,8% dos brasileiros que emigraram para o vizinho do Norte eram mulheres. Em geral, são casadas e com idade entre 25 e 45 anos. Ao chegarem, assim como no Brasil, deparam-se com a necessidade do trabalho.
Contudo, na terra do dólar, a situação é muito mais favorável. Enquanto os EUA ocupam a sexta colocação no ranking “Doing Business” do Banco Mundial, que mensura as economias onde mais facilmente se pode abrir e manter um negócio local, o Brasil está na 127ª. Outra lista, o Índice de Mulheres Empreendedoras da Mastercard, aponta que os EUA são a nação número um para mulheres abrirem suas empresas. Já o Brasil é o 33º de uma lista de 66 países.
Um dos exemplos de quem viveu na pele essa diferença é a brasileira Renata Stoica, que se mudou para os EUA em 2013 para viver com o marido norte-americano. Um ano depois começou um negócio para vender brigadeiros e hoje tem uma fábrica no Vale do Silício e um negócio que faturou mais de R$ 13 milhões em 2021.
Mas se, nos Estados Unidos, o cenário para mulheres empreendedoras é mais favorável em muitos aspectos, isso não significa ausência de desafios. Ainda que exista mais acesso a recursos de maneira geral, elas enfrentam obstáculos, por exemplo, na obtenção de crédito em comparação com os homens. De acordo com um relatório da empresa Fundera, negócios fundados por mulheres recebem menos financiamento do que aqueles liderados por homens, além de terem de pagar juros maiores e serem avaliados com scores de crédito mais baixos.
A conciliação entre vida profissional e pessoal também é um desafio. Muitas empreendedoras nos EUA lutam para equilibrar suas responsabilidades empresariais com as familiares, com o agravante de estarem em um país desconhecido, sem uma rede de apoio e sem domínio do idioma. A licença-maternidade limitada nos EUA e a falta de creches acessíveis podem dificultar ainda mais o sucesso das mulheres empreendedoras.
Apesar desses obstáculos, a verdade é que ser mulher empreendedora nos EUA é muito mais fácil e entusiasmante do que no Brasil e, por isso, a onda de mulheres que fazem esse movimento imigratório só aumenta. Em 2022, por exemplo, mais de 23 mil cidadãos do Brasil receberam o green card – documento de residência permanente dos EUA -, o maior volume da história. Detalhe: mais da metade das emissões foram para mulheres.
Em um mundo onde o empreendedorismo é essencial para o progresso econômico, é imperativo combater e solucionar os desafios que as mulheres empreendedoras enfrentam. No Brasil, precisamos aprender com as boas práticas globais e estimular que essas mulheres fiquem no País, contribuindo com a economia brasileira e o desenvolvimento social.
Por meio de medidas governamentais, apoio da sociedade, convênios com a academia, parcerias privadas e esforços individuais, é possível criar um ambiente em que as mulheres empreendedoras do Brasil possam prosperar, tornando-se um case de sucesso para o mundo.