Operação Korban traz à tona fragilidade em controle de emendas e risco de uso de ‘laranjas’ na gestão
A Polícia Federal, em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU), deflagrou nesta terça-feira (29/7) a Operação Korban, autorizada pelo STF, cumprindo 16 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, Goiás, Acre e Paraná. No total, R$ 25 milhões em bens foram bloqueados e sequestrados. Todas essas medidas visam investigar supostos desvios de cerca de R$ 15 milhões em emendas parlamentares destinadas a eventos de esportes digitais entre 2023 e 2024 .
Quem está no comando da associação?
A Associação Moriá, com sede em Brasília, é liderada por um grupo sem formação técnica — descrito como “um ex-cabo do Exército, um motorista e uma esteticista” — que segundo investigações seriam “laranjas”, sem estrutura operacional compatível com o dinheiro recebido . O presidente identificado como Gustavo Fonseca, com formação em gestão pública, teria passado por órgãos como o Ministério do Esporte e a Saúde, mas o estatuto da instituição permite tais nomeações mesmo sem qualificação técnica formal .
Que eventos financiavam?
Os recursos eram destinados à promoção dos chamados Jogos Estudantis Digitais (JEDIS) no DF e no Espírito Santo, com foco em títulos como Free Fire, Valorant, LoL, Teamfight Tactics e eFootball. A proposta previa a criação de 29 salas gamer em escolas públicas para envolver jovens em competições e capacitação digital . Embora concebida como iniciativa social, a CGU identificou irregularidades como superfaturamento de aluguéis de computadores (até 11 vezes acima do preço de mercado) e uso de cerca de 40% dos recursos em festas de abertura ou encerramento de eventos .
Quem destinou as emendas?
Os repasses vieram de parlamentares do Distrito Federal. Entre os principais estão:
- Dep. Federal Fred Linhares (Republicanos) — R$ 27,6 milhões
- Sen. Izalci Lucas (PL‑DF) — R$ 15,5 milhões
- Dep. Federal Bia Kicis (PL‑DF) — R$ 1,5 milhão
- Dep. Federal Julio Cesar (Republicanos‑DF) — R$ 800 mil
- Dep. Distrital Paula Belmonte (Cidadania‑DF) — R$ 500 mil
Apesar dos valores elevados, a PF indica que nenhum parlamentar é alvo da operação, mas acende o alerta para a origem e flexibilização das emendas .
🧠 Análise e opinião
A falta de critérios rigorosos na aprovação e fiscalização dos projetos permitiu que uma entidade com estrutura duvidosa administrasse quase R$ 50 milhões em recursos públicos com pouca ou nenhuma transparência. O uso predominante das verbas com subcontratações direcionadas, orçamentos padronizados e empresas de fachada revela um padrão conhecido em esquemas de desvio, onde o controle é superficial.
Além disso, as emendas apresentadas por parlamentares do DF levantam um questionamento sobre a governança desses recursos: há uma evidente desconexão entre a justificativa técnica e a execução prática dos projetos. O Executivo e o Ministério do Esporte, que formalizaram os termos de fomento, falharam em conferir amplitude e confiabilidade aos mecanismos de fiscalização.
Este caso reforça a urgência de reformas na utilização de emendas parlamentares, com transparência plena, prestação de contas ágil e punições efetivas para evitar que entidades alocadas de forma artificial se tornem canais de desvio público.