Enquanto escolas públicas de Goiás enfrentam a precariedade estrutural, falta de profissionais e déficit de recursos pedagógicos, R$ 465 mil do Fundeb – dinheiro sagrado da educação básica – foram desviados para comprar carros, eletrônicos e luxos por meio de empresas intermediárias ligadas a um simples funcionário terceirizado. A denúncia não é apenas escandalosa: é sintomática de um sistema corrompido que tolera a farra com o dinheiro público.
A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira (7/8) a Operação Ilicitantes, cumprindo mandados em Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo, investigando uma teia de corrupção com ramificações que vão muito além da ponta do iceberg apresentada até agora.
📂 O que se sabe até o momento
O principal foco da investigação é uma licitação conduzida pela Secretaria de Estado da Educação de Goiás (SEDUC-GO). Segundo a PF, o esquema envolvia empresas que serviam como “laranjas fiscais” para esquentar os valores desviados, ocultando sua origem ilícita por meio de transações bancárias encadeadas e compras incompatíveis com os rendimentos declarados do investigado.
Entre os bens adquiridos com o dinheiro da fraude estão veículos automotivos e equipamentos eletrônicos de alto valor, numa clara operação de lavagem de dinheiro.
Embora a Seduc-GO tenha corrido para declarar que não foi alvo da operação nem teve unidades vasculhadas, o caso evidencia uma grave falha no controle interno da gestão dos contratos terceirizados, setor muitas vezes tratado com displicência e baixa fiscalização, mesmo gerindo cifras milionárias.
🧩 Terceirização: o elo frágil da corrupção estatal
O envolvido direto seria um terceirizado desligado em 2022, mas a grande pergunta que permanece é: como um servidor de empresa contratada pela Seduc-GO teve acesso, autonomia e meios para movimentar quase meio milhão de reais sem levantar suspeitas por tanto tempo?
É mais um alerta sobre os perigos da terceirização descontrolada no setor público, onde a responsabilidade pelas ações dos contratados é muitas vezes empurrada para debaixo do tapete em nome da “economia de gestão”.
Quem fiscaliza os contratos? Quem audita os repasses? Quem verifica os vínculos suspeitos entre empresas contratadas e servidores internos?
Se a corrupção se infiltra na base da educação, corrompe não só cofres públicos, mas o futuro de milhares de crianças e jovens, especialmente nas periferias e comunidades vulneráveis.
⚖️ O Estado precisa mais do que “notas de esclarecimento”
A nota oficial da Seduc-GO, embora protocolar, soa como uma tentativa de se eximir de responsabilidade institucional, quando o correto seria instaurar imediatamente sindicância interna, revisão de todos os contratos de terceirização e abertura de canal para denúncia de irregularidades.
A Secretaria precisa mais do que apenas se defender: precisa demonstrar ações concretas para garantir que a educação não seja apenas retórica em discurso político.
A Operação Ilicitantes pode ser apenas o começo de uma limpeza necessária nos contratos da educação goiana, que há muito carecem de auditoria independente, transparência ativa e vigilância social.
📌 Resumo do Caso
• R$ 465 mil desviados do Fundeb via empresas intermediárias
• PF cumpre mandados em GO, SP, MG e ES
• Investigado é ex-terceirizado da Seduc-GO
• Recursos foram usados em carros e eletrônicos
• Crimes investigados: fraude em licitação, corrupção e lavagem de dinheiro
Deficiência de professores efetivos
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Em 2024, apenas 57,9% dos docentes na rede estadual de Goiás são efetivos (concursados), com o restante ocupando vagas de caráter temporário ou precário
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Situação agravada por preocupantes déficits: um diagnóstico da Assembleia Legislativa indicou que a rede estadual sofre com um déficit estimado em até 10 mil educadores, entre professores e coordenadores
2. Infraestrutura ainda precária
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Apesar do avanço na cobertura — com 86,8% das matrículas nos anos finais do ensino fundamental e 83,1% no ensino médio concentradas na rede estadual o aumento no número de estudantes só evidencia a falta de estruturas adequadas para acolhê-los.
3. Carga horária ampliada, mas sem suporte à altura
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A adoção do ensino em tempo integral atingiu 20,9% das matrículas tanto no ensino fundamental quanto no médio, superando a média nacional No entanto, muitos estabelecimentos ainda carecem de bibliotecas, laboratórios e espaços adequados para sustentar essa jornada estendida.
“Dados de 2024 mostram que somente 57,9 % dos professores na rede estadual de Goiás são concursados, com os demais ocupando vagas temporárias — em um contexto de déficit acumulado que pode chegar a 10 mil educadores. Ainda que mais de 86 % das matrículas do ensino fundamental (anos finais) e 83 % do ensino médio estejam concentradas na rede estadual, e 20,9 % dos alunos estudem em tempo integral, a ampliação do acesso entra em choque com deficiências estruturais, falta de bibliotecas, laboratórios e espaços adequados, comprometendo a qualidade da educação.”
📸 Imagens: Divulgação PF / Reprodução Seduc-GO
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