Nesta terça-feira (4), uma operação policial de proporções inéditas expôs o que há muito tempo vinha sendo denunciado nos bastidores: Goiás se tornou o principal polo logístico e financeiro do narcotráfico no Brasil.
Foram 61 mandados de busca e apreensão cumpridos simultaneamente em Goiás, São Paulo, Santa Catarina, Maranhão, Paraíba, Amazonas e Tocantins, numa megaoperação coordenada pela Polícia Civil de Goiás, com o apoio das polícias civis desses estados.
Segundo os investigadores, o grupo criminoso é responsável por movimentar quase R$ 1 bilhão em esquemas de lavagem de dinheiro, empresas de fachada e rede de laranjas espalhada pelo país.
O laboratório do crime
A investigação revelou uma estrutura empresarial do tráfico: empresas com sede formal, notas fiscais simuladas, contas bancárias interligadas e contabilidade disfarçada.
Somente em contas de pessoas físicas e jurídicas “laranjas”, o grupo movimentou mais de R$ 630 milhões, valor que se equipara ao orçamento anual de cidades de médio porte.
O dinheiro vinha de rotas de distribuição de cocaína processada em Goiás, o que explica por que a “Rota Caipira” — expressão cunhada por investigadores da Polícia Federal — hoje é considerada o principal corredor do tráfico nacional, ligando o Paraguai e o Mato Grosso do Sul a São Paulo e ao Nordeste.
Por trás dessa engrenagem está o crime organizado de alta sofisticação financeira, com conexões internacionais e domínio tecnológico: o tráfico migrou do morro para o escritório. E Goiás, com sua malha rodoviária central, virou o laboratório ideal.
A falsa sensação de segurança
Enquanto o governo estadual exibe campanhas milionárias de publicidade afirmando que “em Goiás não tem bandidos” e que a criminalidade foi vencida, a operação bilionária mostra o oposto: o crime não desapareceu — ele se profissionalizou.
Durante os oito anos da gestão Ronaldo Caiado (UB), a estrutura policial de combate ostensivo ganhou visibilidade, mas a inteligência financeira do crime avançou sem controle.
Empresas fantasmas, postos de combustíveis, transportadoras e distribuidoras de insumos agrícolas passaram a ser usadas como fachada para lavar o lucro da cocaína e da maconha.
Em vez de reduzir a criminalidade, a estratégia de “propaganda de eficiência” mascarou o crescimento subterrâneo de organizações criminosas que se infiltraram na economia formal.
Na ferida: a propaganda e a realidade
Os números desmontam o discurso político:
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O Primeiro Comando da Capital (PCC) já domina redes de postos de combustíveis em Goiás, usados para lavagem de dinheiro;
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Investigações federais apontam que bilhões foram reciclados em contratos fictícios e CNPJs fantasmas;
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A Folha de São Paulo revelou que Goiás é o epicentro da “Rota Caipira”, sendo hoje o maior laboratório de refino e redistribuição de cocaína do país;
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Operações recentes mostram que a fronteira entre o agronegócio e o tráfico é cada vez mais tênue — com caminhões de insumos, fertilizantes e defensivos servindo de disfarce para o transporte de drogas e dinheiro.
Essa realidade, que o governo tenta minimizar, desmonta o mito de que o combate à criminalidade se resume a apreender armas e prender usuários. O problema não está no morro — está no caixa empresarial, nos depósitos fiscais e nos contratos simulados.
Análise: o coração do problema
O foco da denúncia não é o governo, mas o modelo de combate ao crime.
A política de segurança pública em Goiás fracassou ao insistir na narrativa da força bruta e da publicidade institucional, enquanto ignora o crime financeiro e as redes empresariais de lavagem.
A operação desta semana é o retrato da nova face do narcotráfico brasileiro: uma máfia que usa o agronegócio, os postos de combustíveis e as empresas de logística como disfarce — e que encontrou em Goiás o ambiente ideal para crescer.
A Rota Caipira não é apenas uma rota de drogas. É o mapa do poder econômico do crime organizado — um mapa que o país precisa começar a ler antes que se torne irreversível.






























































