Da legalidade temporária ao limbo jurídico
O “Pix Bão Demais” ganhou projeção em 2025 como plataforma de sorteios via PIX, divulgada em redes sociais com promessa de prêmios de até R$ 120 mil.
Um documento oficial confirma que o projeto foi autorizado pela LOTEP (Loteria do Estado da Paraíba) sob o processo LTP-PRC-2025/01038 e Termo nº 00571/2025, vinculando a campanha à empresa FM Agenciamento Publicitário & Intermediação de Negócios LTDA (CNPJ 30.999.856/0001-83).
📑 Detalhes do Termo de Autorização
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Modalidade: sorteio passivo (não aposta)
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Período autorizado: 03/07/2025 a 01/09/2025
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Empresa responsável: FM Agenciamento LTDA
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CNPJ: 30.999.856/0001-83
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Prêmio anunciado: R$ 120.000,00
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Plataforma oficial: pixbaodemais.com
O detalhe crucial: a autorização venceu em 1º de setembro de 2025. Portanto, qualquer operação posterior ocorre sem respaldo legal, caracterizando atividade irregular ou clandestina.
Quem é a empresa por trás
A empresa FM Agenciamento LTDA, sediada em Campina Grande (PB), tem como sócio-administrador Cícero Fabiano Melo Silva e registra capital social de R$ 100 mil.
Seus CNAEs vão de publicidade e marketing digital até atividades de tecnologia. Mas um código chama atenção: 92.00-3/99 – exploração de jogos de azar e apostas não especificados anteriormente.
Ou seja, a própria empresa já se apresenta legalmente como apta a operar em jogos e apostas – o que explica sua entrada no setor lotérico.
A face de Morrinhos
Em Morrinhos, o “Pix Bão Demais” se infiltrou em eventos esportivos e culturais, como o Nacional de Sinuca, realizado em julho de 2025, onde a marca apareceu como patrocinadora oficial.
A associação direta de uma plataforma com autorização temporária e vencida em outro estado (Paraíba) a eventos locais em Goiás levanta suspeitas: há favorecimento político? há omissão deliberada do poder público em checar a legalidade?
Conexões políticas e empresariais
As investigações jornalísticas trazem ainda a suspeita de que o “Pix Bão Demais” pode estar ligado indiretamente ao empresário Conrado Raphael Bohrer Diedam, esposo da secretária de Saúde de Morrinhos, Náryma Angélyca Diedam.
Conrado é CEO e sócio da fintech CIABRA Pagamentos S/A, sediada em Goiânia, com sócios ligados a empresas médicas e de tecnologia. Informações de bastidores sugerem que ele teria também interesse em plataformas de apostas digitais – entre elas, o “Pix Bão Demais”.
Se confirmada, a ligação escancara conflito de interesses e nepotismo indireto: a secretária administra a saúde municipal enquanto seu esposo, do outro lado, estaria associado a plataformas financeiras e de apostas que circulam em eventos e campanhas no município.
Impacto jurídico
O caso do “Pix Bão Demais” pode ensejar múltiplas responsabilizações:
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Para a empresa (FM Agenciamento): operar após o prazo da LOTEP caracteriza exercício irregular de atividade lotérica, podendo configurar contravenção penal (art. 51 da LCP).
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Para patrocinadores e parceiros: quem promove ou associa a marca após o vencimento pode ser acusado de conluio ou lavagem de imagem de atividade ilegal.
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Para o poder público de Morrinhos: omissão em fiscalizar e permitir a promoção da marca em eventos municipais pode configurar ato de improbidade administrativa.
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Para agentes políticos ligados a Conrado Diedam: se confirmada a ingerência, abre-se a porta para CPI, ação civil pública e denúncia criminal.
A pergunta que não cala
O “Pix Bão Demais” nasceu como campanha de sorteio autorizado pela LOTEP, mas se transformou em um instrumento de risco legal e político em Morrinhos.
👉 Quem está bancando a continuidade da plataforma após o vencimento da autorização?
👉 Qual o papel de empresários ligados à saúde municipal nesse esquema?
👉 Por que a prefeitura fecha os olhos para o patrocínio de eventos locais com marca possivelmente irregular?
Conclusão
O caso exige respostas rápidas. O Ministério Público de Goiás (MPGO) e o Tribunal de Contas (TCM-GO) devem abrir investigação para rastrear o fluxo financeiro e a rede de favorecimentos ligados ao “Pix Bão Demais”.
Enquanto isso, a população de Morrinhos precisa entender: o que parece apenas um sorteio divertido pode ser, na prática, a ponta de um esquema muito maior de apostas, finanças e política.
A face pública e o bastidor
Quem é a CIABRA Pagamentos S/A
- Fundação: 2020.
- Sede: Goiânia (Av. T-9, Jardim América).
- Atividade principal: meios de pagamento, plataformas digitais de cobrança, PIX, cartões e automação financeira.
- C
NPJ: 38.709.323/0001-21.
- Sócios identificados:
- Conrado Raphael Bohrer Diedam – CEO, empresário de origem no Rio de Janeiro, hoje radicado em Goiás.
- Kesley Silveira de Albuquerque – sócio ligado a empresas médicas em Goiás.
- Fábio Corrêa Martins – sócio com participação em ramos de tecnologia e serviços.
A empresa se apresenta como fintech de inovação em pagamentos, mas já figura em ações judiciais registradas em 2025, segundo consultas em bases públicas, indicando passivos a serem detalhados.
O risco de conflito de interesses
A ligação entre a secretária de Saúde e um sócio de fintech levanta questões:
- Fluxo financeiro: se a CIABRA, ou empresas associadas a seus sócios, entrar em contratos públicos ligados à Saúde, haverá forte indício de nepotismo indireto e favorecimento.
- Porta de entrada via serviços médicos: um dos sócios da fintech, Kesley Albuquerque, tem vínculos empresariais em clínicas e serviços médicos em Goiás, área diretamente conectada à atuação da pasta de Náryma.
- Processos judiciais: a própria CIABRA já aparece em ações, o que abre dúvidas sobre a solidez do grupo empresarial.
Impacto político
Mais do que a condução técnica da saúde, passa a estar em jogo a pergunta:
até onde vai a influência de Conrado Diedam na cadeira de comando da Saúde de Morrinhos.